domingo, 3 de janeiro de 2016

Dia da Consciência Negra: Convite à reflexão

                No dia 20 de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra no Brasil, trazendo a reflexão sobre a inserção do negro e da cultura afro na sociedade brasileira. Fazendo valer dessa reflexão, me chama a atenção como os poemas de Castro Alves dialogam com a realidade do negro na sociedade atual, relatada tão bem na letra da música da banda O Rappa: “Todo camburão tem um pouco de navio negreiro”. Castro Alves e O Rappa estilizam a realidade do negro em sua época, que apesar de diferentes resultam em uma arte engajada pautada na denuncia do Brasil metafórico da escravidão ou de sua manutenção mascarada, da exclusão e da desigualdade. 
           A parcela detentora do poder insiste no discurso de que o Brasil vive em uma Democracia Racial, onde as relações raciais são ausentes de praticas de racismo e discriminação racial. Caso isso fosse realidade, a arte de Castro Alves seria incapaz de dialogar tão claramente com O Rappa. Não pretendo abordar aqui como os estereótipos criados e alimentados historicamente contribuem para manutenção do racismo no Brasil ou explicar de onde vem esse racismo que se esconde na sociedade. 
           Neste momento, considero importante dizer que o preconceito racial EXISTE e é MANTIDO socialmente, fortalecido principalmente, pela mídia televisa que insiste em reproduzir a relação do negro com a violência e a ocupação de subempregos, bem como pelas instituições educacionais, que evitam debater, não só o papel do negro, mas também de outras populações marginalizadas. Diante de uma história de sangue, humilhação e condenação à miséria pesando sobre as costas de um país que não faz questão de reconta-la, é impossível falar em Democracia Racial.
           Ao irmão negro digo é necessário que sejamos cada vez mais sujeitos de nossa fala, da nossa escrita e de nossa historia. Que este dia 20 de novembro, renove nossas energias para continuarmos nossa trajetória pela conquista de direitos e igualdade de oportunidades e que a reflexão sobre qual o papel do negro, bem como de todas as outras populações marginalizadas não seja feita apenas em datas comemorativas, mas todos os dias. Acredito que assim, caminharemos para uma sociedade mais justa.


J.O. Ambrósio

sábado, 28 de abril de 2012

Cotas Raciais e o mito da democracia racial

Para aqueles que não sabem, essa semana o Supremo começou a julgar a legalidade de cotas em Instituições de Ensino. Três ações estão em pauta e uma delas questiona o sistema de cotas raciais.
Aqueles que são contra vão dizer que elas são desiguais e anticonstitucionais, já que a Constituição prega a igualdade de direito para todos, também vão dizer que vão contra o principio do mérito e que ainda pode diminuir a qualidade do ensino superior, ainda haverá aqueles que dirão que o que deve existir mesmo é melhoria na educação de base para que todos tenham oportunidades iguais.

Aos primeiros eu digo, a constituição diz que todos devem ter direitos iguais, mas ao mesmo tempo diz que para essa igualdade é preciso promover ações que façam com que todos a tenham. Caros amigos, nenhuma cota tem a função de ser eterna, sua função é garantir que a longo prazo, a igualdade pregada pela constituição seja realmente exercida por todos. Àqueles que questionam o mérito, o próprio mérito do vestibular já é questionado a tempos, não vou me deter no método de avaliação do Enem, onde não há nenhuma transparência, uma falta de respeito com o estudante. As cotas são desiguais para alcançarmos uma igualdade constitucional. Sobre a questão de diminuir a qualidade do ensino, as cotas são para as pessoas entrarem na faculdade e não para saírem uma vez que, aqueles que não conseguirem se manter na faculdade não se formarão, não havendo profissionais incapacitados no mercado, assim como haverá negros que podem não conseguir concluir um curso superior, também há aqueles de outras etnias. O cotista se forma igual a todos, isso só é alcançado através do seu êxito dentro da faculdade. Agora, questionar a qualidade de um profissional apenas pela sua forma de ingresso na faculdade é uma atitude sem fundamento e preconceituosa, uma vez que todos, cotistas e não cotistas, foram submetidos às mesmas formas de avaliação.
Quanto a educação, é mais que óbvio que o Brasil precisa realizar uma melhora no ensino básico e fundamental. Mas, isso excluiria as cotas ?? Essa reforma deve sim, ser feita e cobrada pela população. Contudo, mesmo que comece neste momento é uma medida estrutural que demanda alguns anos. Quem sabe os alunos cotistas depois de formados não serão as autoridades responsáveis por essas melhorias? Afinal de contas eles viveram essa precariedade do sistema e sabem na pele o que é. A melhora do ensino deve ser realizada juntamente com medidas universalistas e de Ações Afirmativas. Os problemas sociais devem ser visto como um todo. O presente é construído pelo que foi feito no passado, isso não pode ser negado, as cotas são necessárias, mas não devem ser feitas isoladamente.
Cotas não são uma questão de competência, são largamente utilizadas na sociedade moderna em cenários de desequilíbrio. Nenhuma cota é criada com a intenção de ferir direitos ou de prejudicar quem quer que seja, todas, sem exceção, tem caráter de justiça social e principalmente de estabelecimento de equilíbrio. Portanto, em tese só seria contra a ideia de cotas os integrantes de uma elite não conscientizada ou qualquer grupo tradicionalmente detentor de privilégios.
O Brasil vive o chamado “mito da democracia racial”, ou seja, um país lindo, onde negros, brancos, índios e outras etnias vivem em completa harmonia, todos são iguais e tem seus direitos garantidos pela Constituição.
Agora, me diz você que é contra as cotas: Você realmente acredita que os negros, que no passado eram tratados como objetos, que formavam grupos para sobreviverem como podiam, estão em equidade com os brancos que sempre tiveram a garantia de seus direitos básicos, esses mesmos brancos que os tratavam como objetos, que os açoitavam e se consideravam superiores? Será que esse passado realmente não tem relação alguma com a situação em que vivemos hoje e deve ser deixado para traz? Será que a noção social de raça não esta diretamente ligada à pobreza?
A história africana e negra só passou a ser ensinadas nas nossas escolas recentemente por causa da lei 10.639 de 2003. Antes só apreendíamos a historia dos brancos europeus. As crianças negras nem viam sua historia na escola, não tinham com o que se identificar, não viam seu papel na construção do pais além de terem sido escravos. Assim ficava mais fácil colocar em sua cabeça que eram tratados com igualdade de direitos.
Meu nome é João Octávio, sou negro, estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro e militante em prol da permanência das cotas raciais, acredito em um Brasil mais justo, mais igualitário, em que as cotas são ferramentas essenciais para que esse objetivo seja concretizado.

                                                                                                                                        J.O. Ambrósio

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Depoimento da professora Amanda Gurgel - Triste quadro da educação no Brasil


Professora Amanda Gurgel silencia Deputados em audiência pública.
Depoimento Resumindo o quadro da Educação no Brasil.
Educadora fala sobre condições precárias de trabalho no RN/BRASIL.
(10/05/2011)

sábado, 20 de agosto de 2011

Praça Sete Sitiada - Parte I - "Quem é o ladrão?"


9 de agosto 2011.
Faltando dois dias para a Audiência Pública que denunciaria toda politica repressiva de caráter criminal praticada pela prefeitura, a policia militar, junto a fiscalização do município inicia o sitiamento da Praça Sete em Belo Horizonte. A ação duraria pelos próximos 4 dias.

As violações continuam, mas desta vez, os artesãos estão conscientes das leis e questionando os fiscais, fazem com que eles reconheçam seus próprios erros.

Acompanhe esta série que irá culminar na Audiência.

Mais informações: belezadamargem.wordpress.com


A criminalização do artista - Como se fabricam marginais em nosso país
http://vimeo.com/27659191

sábado, 14 de maio de 2011

A importância e a dificuldade de se conviver com as diferenças


No contexto biológico a diferença é fator fundamental para que ocorra a seleção natural. Cada vez que o meio impõe uma condição é selecionado o membro da espécie mais apto à sobreviver no novo cenário, possibilitando assim a perpetuação da espécie. A evolução de todas as espécies é possível graças à sua variedade. No âmbito das relações sociais, as diferenças são fundamentais para que haja manutenção do cenário em que a sociedade esta inserida. A criação do Estado ideal, onde há o exercício pleno da democracia e da cidadania só é possível por meio da confluência de pensamentos, o que existe devido à diversidade de gêneros e/ou grupos em uma sociedade.
No entanto, saber como viver com as diferenças é o problema. Membros de um grupo, muitas vezes, têm dificuldade em conviver com indivíduos que possuem valores ou padrões diferentes dos seus e acabam se julgando como superior aos demais. Esse é o pilar de diversos fatores de discriminalização, seja étnica, sexual ou física. Em algum momento na história foram estabelecidos padrões de beleza, pensamento e conduta. As pessoas adquiriram tamanha admiração por aqueles que seguem essa linha que, mesmo quando não fazem parte desse seleto grupo, vêem-se com um olhar de inferioridade, sendo capazes de discriminar o próprio grupo ao qual fazem parte. São muitas as mães de meninas negras, que se deparam com filhas que sonham em ser fisicamente como a Xuxa, mas, que, por não conseguirem por razões óbvias acabam se vendo com um olhar de inferioridade daquelas que o conseguem.
É certo que o desafio de conviver com as diferenças é uma tarefa árdua, porém precisa ser encarada como uma necessidade humana. Pois, ao respeitar o próximo, certamente se abre caminho para que suas diferenças também sejam respeitadas. Ao entender e compreender o outro, é aberta uma porta para que outro também o entenda e o compreenda.
Conviver com as diferenças é um desafio inerente a todo ser humano. É fundamental para que todo individuo cresça, aprenda e crie. Uma das problemáticas da sociedade atual é aceitar o novo ou o que está fora dos padrões já existentes. Porém, com a flexibilidade e o respeito é possível, sim, alcançar um bom convívio com o outro diante das diversidades.

J.O Ambrósio